Descobri há uns anos que caminhar na natureza é uma das
minhas atividades preferidas. E quando o cenário inclui montanhas e muito verde
ainda me sinto mais energizada e envolvida pelo caminho.
Movida por esta expetativa e depois de receber a sugestão
por parte de outros viajantes, entusiasmei-me para fazer o Quilotoa Loop (ou pelo menos, parte dele) enquanto estou no Equador.
O Quilotoa Loop é
o caminho que se faz entre as seguintes povoações:
Latacunga > Zumbahua > Quilotoa > Chugchilán >
Isinliví > Sigchos > Latacunga
Pode ser feito de transportes, pela estrada normal, ou ser
percorrido a pé por trilhos que seguem pelo meio da montanha e que ligam
algumas destas localidades.
Escolhi ir de autocarro desde Latacunga até Quilotoa e, a
partir daí, fazer o trilho a pé até Isinliví, tendo depois regressado de
autocarro a Latacunga, para completar o loop.
Fiz um total de 3 dias de caminhada mas há quem lhe dedique
4 ou 5 dias, acabando por conhecer mais lugares.
Abaixo deixo uma breve descrição do caminho e espero que
quem ainda não fez este trekking
possa algum dia desfrutar desta jornada pois vale muito a pena.
Dia 1 – Autocarro de
Latacunga para Quilotoa e Caminhada pelo Trilho da Cratera
Em Latacunga fiquei no Hostal Tiana, bem popular entre
mochileiros. É um lugar simpático, perto da estação de autocarros e onde se
pode deixar a bagagem que não se vai utilizar no Quilotoa Loop pelo valor de $1 por dia.
Na manhã em que iniciei o percurso, fui a pé até ao terminal
de transportes e de lá apanhei um autocarro para Quilotoa. A viagem demorou
aproximadamente 2h.
Assim que cheguei à povoação fui ao posto de turismo, que
fica mesmo junto à cratera, e lá pedi informações sobre o caminho e as
possibilidades de alojamento em Quilotoa, onde ia passar essa noite.
Hospedei-me num hotel muito bonito, novo e confortável,
pertencente ao projeto de turismo comunitário da região, o Princesa Toa.
Deixei no quarto as coisas de que não precisava e
preparei-me para fazer o trilho em redor da cratera. É importante referir que o
trilho demora entre 4 a 5 horas para ser feito, por isso convém ter em conta
que o sol se põe pelas 18h para não caminhar de noite.
O trilho é mais exigente do que eu pensava. Tem constantes
subidas e descidas bem inclinadas, alguns pedaços com muita areia (que dão a
algumas escorregadelas) e quase sempre é bastante estreito e ladeado por
encostas inclinadas, quer do lado da montanha, quer do lado da cratera.
Na minha opinião é importante ter alguma resistência física
para fazer o trilho e ser capaz de lidar de forma confortável com a questão das
alturas. Confesso que em vários momentos me senti posta à prova e usei várias
vezes as mãos para me apoiar, no chão ou nas laterais do caminho, e não me
desequilibrar.
O facto de a caminhada se fazer a, praticamente, 4000 metros
de altitude também aumenta a sensação de cansaço. Sente-se o coração bater mais
rápido e a respiração mais acelerada do que o normal. Para diminuir o esforço
nestas situações, costumo levar umas folhas de coca e vou “mascando” nas
subidas. Ajudam bastante.
Apesar da exigência do trilho, senti que esta é mesmo uma
experiência a não perder no Equador. Mesmo que não se façam as outras partes do
caminho, percorrer o trilho em redor da cratera é essencial!
Dia 2 – Trilho a pé
desde Quilotoa até Chugchilán
Antes de iniciar a caminhada, acordei cedo e fui ver o
nascer do sol junto à cratera.
Foi verdadeiramente um momento mágico que começou a
acontecer pelas 5h50 e durou cerca de 30 minutos. Se me perguntarem se vale a
pena acordar cedo para ver este fenómeno, eu vou responder numa fração de
segundo: - Claro que sim!
O cenário da lagoa é lindíssimo de qualquer forma mas poder
contemplar ali o nascer do sol é algo maravilhoso!
Depois deste amanhecer abençoado e com a barriga cheia com
um bom pequeno-almoço, fiz-me ao caminho. A primeira hora de caminhada coincide
com o trilho em redor da cratera. Depois, quando se chega a um miradouro sobre
o lago, toma-se a rota que segue pelo lado esquerdo e começa-se a descer em
direção a Chugchilán.
Já nessa descida, encontrei-me com uns alemães que tinha
conhecido no dia anterior e acabei por fazer a restante caminhada com eles.
Até chegarmos ao canyon do rio Toachi, o caminho foi relativamente fácil e estava bem sinalizado. No entanto, quando se começa a descer para o rio, o trilho estreita-se, a inclinação aumenta bastante e a sinalização deixa de existir… Tivemos ali um momento de confusão e acabámos por não perceber bem por onde seguia o caminho.
Eu, para além de necessitar de lidar com essa dificuldade, ainda precisei de por à prova a minha determinação perante as vertigens que estava a sentir. O caminho muito inclinado, estreito e com fortes inclinações nas laterais, provocou-me bastante ansiedade. No entanto, avançando bem devagarinho e usando as mãos e os pés para ir descendo fui percorrendo o caminho beneficiando da paciência do Joachim e do Jannik que iam esperando por mim no final dos pedaços mais difíceis e se ofereciam sempre para me ajudar.
Enquanto andámos perdidos aproveitámos para ir seguindo o
rio que ia na direção que queríamos e de vez em quando escalávamos a encosta
para ver se vislumbrávamos a continuação do trilho no topo do canyon.
Acabámos por ficar a conhecer alguns lugares bem bonitos e
depois de 2 horas conseguimos retomar a rota sinalizada.
Chegámos a Chugchilán bem cansados mas com uma sensação de realização e superação muito boa! Ficámos no Hostel Cloud Forest e lá juntámo-nos a outros mochileiros que estavam a fazer o caminho na direção oposta. Trocámos algumas dicas para o dia seguinte e jantámos juntos antes de cada um de nós cair pró lado e dormir como uma pedra.
Dia 3 – Trilho a pé
desde Chugchilán até Isínlivi
Com o acumular do cansaço dos dias anteriores, acabámos por
preguiçar bastante e sair de Chugchilán já por volta da 9h da manhã.
O caminho antevia-se mais fácil e fomos parando várias vezes
para desfrutar da paisagem, pôr os pés descalços no rio ou simplesmente comer
qualquer coisa.
Só a última parte é que puxou mais por nós por causa do
aumento da inclinação e nos fez reduzir a velocidade na derradeira subida para
Isínlivi.
Já na povoação instalámo-nos no hostel Llullu Lama e
desfrutámos do ambiente tranquilo e boa energia do lugar.
Desfrutei dos últimos momentos com os meus companheiros de
caminhada e despedi-me deles relativamente cedo porque no dia seguinte iria
madrugar para regressar a Latacunga.
Dia 4 – Autocarro de
Isínlivi para Latacunga
Acordei bem cedo porque neste dia queria chegar a Alausi,
que ainda fica a umas 4 horas de Latacunga. Apanhei o autocarro que sai de
Insílivi às 5h da manhã e cheguei a Latacunga pelas 7h30.
Fui até ao hostel onde tinha deixado a minha mala e
aproveitei para tomar um café antes de prosseguir viagem.
Sentia ainda o desgaste da caminhada, o corpo bem dorido e
as costas a pedir para não carregar mais a mochila. Mas estava feliz por me ter
desafiado a ter esta experiência!
Durante a caminhada pensei que foi bom não ter lido muito
sobre o grau de dificuldade do Quilotoa
Loop pois, talvez se soubesse como era, não o teria feito. Ao fazê-lo senti
a cada dia que me superava e voltei a experimentar aquela sensação de
realização que aparecia quando fazíamos uma grande subida durante a viagem de
bicicleta ou tínhamos um dia mais duro.
Informações:
Hostel Tiana (Latacunga) - $16 em quarto privado com casa de
banho partilhada
Viagem Autocarro Latacunga – Quilotoa - $2
Entrada na Área da Lagoa de Quilotoa - $2
Hotel Pricesa Toa (Quilotoa) - $35 em quarto privado com
casa de banho (inclui jantar e pequeno almoço)
Hostel Cloud Forest (Chucchilán) - $15 em dormitório com
casa de banho (inclui jantar e pequeno almoço)
Hostel Llullu Lama (Insílivi) - $20 em quarto duplo com casa
de banho partilhada (inclui jantar e pequeno almoço)
Viagem Autocarro Insílivi – Latacunga: $3
Fantástico! Continuação de bons caminhos
ResponderEliminarTudo de bom.