O vento, a chuva, o gelo, as temperaturas extremas, os movimentos
da terra e tantos outros arquitetos da natureza, talharam artisticamente as
rochas selvagens dos três parques naturais por onde passámos: Arches, Canyonlands e Grand Canyon.
Para fazer esta parte do caminho alugámos um carro e conduzimos de
Price (Utah) a Flagstaff (Arizona). A principal razão para colocar as bicicletas e os alforges dentro de um porta bagagens foi o facto do nosso visto estar a terminar. Temos menos de um
mês para fazer o percurso que nos resta até à fronteira e, com este prazo apertado, dificilmente conseguiríamos fazer tudo só de bicicleta.
O carro ajudou-nos a encurtar as distâncias na travessia das
terras desérticas e permitiu-nos visitar alguns lugares onde, devido às inclinações e condições da estrada, não iríamos desfrutar tanto indo "a pedal".
Nesta mini road trip sentimos como cada um dos parques é singular e especial. Pudemos ver um trabalho da natureza que nos transcende e perguntamo-nos quantos
(milhões de) anos foram precisos para aperfeiçoar esta obra de arte?
Quando se chega a qualquer um destes lugares há um convite à
contemplação e, quase, à meditação. A natureza pede-nos, como que num
ritual, que nos conectemos com o que nos rodeia. E, por momentos, apetece aplaudir
aquelas paisagens.
As emoções sentem-se fortes. Há até uma lágrima que espreita e quer
cair em privilégio.
As rochas que nos elevam, quando caminhamos sobre elas, conduzem-nos
a miradouros naturais e as imagens que desde lá vemos são encantadas e divinas.
Tão rebeldes e surreais que deixamos de existir só de olhar para elas. Tudo à
volta desaparece, qual feitiço.
Fica a angústia de não conseguir reproduzir cada sensação
nas fotografias que tiramos. Se ao menos isso fosse possível…
Podemos resumir e descrever cada lugar em palavras e em imagens. Mas será sempre uma partilha filtrada pela nossa vivência. No entanto esperamos que esta partilha possa ser também um convite tentador para, quem nos acompanha, vir conhecer estes lugares ao vivo.
Arches National Park
Neste parque natural, há arcos e janelas que
espreitam para cenários colossais.
Quando lá chegámos as rochas tinham ainda o
brilho deixado pela chuva que acabara de cair. Cintilavam e emanavam vida.
O que lá existe é um jardim feito de pedra e transformado lentamente pelo tempo. Cada rocha construiu uma personalidade própria e impõe-se na paisagem com firmeza e
caráter.
À hora do pôr-do-sol as sombras de cada pedra alongam-se
pelo chão e a luz reforça aquela cor alaranjada, tão característica.
Com a noite a chegar e algumas estradas fechadas (por causa
da chuva abundante) deixámos muito por ver. Soube a pouco. E, ao mesmo tempo,
foi tanto… imenso. Intenso!
Canyonlands National Park
No dia em que planeámos ver as Canyonlands, acordámos
envoltos em chuva e nevoeiro.
Pensámos que quando chegássemos ao parque só
íamos ver nuvens sobre os rochedos e… nada mais.
Felizmente, o céu foi abrindo e conseguimos desfrutar deste
parque natural durante quase todo o dia.
Sendo menos popular que os Arches ou o Grand Canyon, não
convida tantos visitantes.
Mas, dos 3, foi o que mais nos
impressionou. Excedeu toda e qualquer expetativa que pudéssemos ter.
Fizemos alguns dos trilhos nos quais “escalámos”
pedras enormes, rudes e toscas.
Cada vez que chegávamos ao topo éramos
desafiados a fazer mergulhos profundos com o olhar. Só nos apetecia ter asas, apanhar as correntes de vento e voar
sobre aqueles desfiladeiros tão bem talhados e impressionantemente belos.
Chamam-lhe ilhas no céu. Ilhas cuja terra os rios rasgaram
com suavidade, formando curvas infinitas.
Quando ali estamos sentimos que entramos no cenário de num
filme de fantasia… É como se a natureza nos desfiasse a acreditar que tudo
aquilo é real e não apenas uma aparente ilusão.
Nestas terras encantadas, há um espetáculo natural magnífico que estreia
todos os dias, com artistas invisíveis que laboram no mais bonito silêncio!
Grand Canyon National Park
O Grand Canyon parece feito de anfiteatros gigantes. Ao
vê-lo de cima, apetece caminhar pelos vários trilhos que nos levam lá abaixo,
às margens do rio. Com apenas um dia para fazer a visita não nos alongámos nas
caminhadas… Mas teria sido certamente muito bom se tivéssemos ficado mais tempo!
O nome deste canyon adequa-se perfeitamente à sua grandeza. Pede
para nos demorarmos (se tal for possível).
Para ajudar à visita, há vários autocarros que percorrem
diferentes percursos no parque e que são gratuitos. Há também um comboio - que ficou por
experimentar.
Não falta paisagem para ver, admirar e explorar.
Há ainda o rio Colorado lá ao fundo, pequenino.
Moroso, vai devorando a terra. Esculpindo-a.
Estivemos apenas na parte sul do canyon (south rim) mas existe também
uma estrada do lado norte que nos disseram ser menos turística e igualmente
bela. Quem sabe se no futuro vamos até lá conhecê-la!
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