Cheguei a Quíndio, a região da Colômbia onde a selva deu lugar às plantações de café.
Venho de Medellín e depois de Bogotá, das zonas urbanas.
Bonitas, interessantes, perfumadas de uma cultura que vibra por entre a
modernidade. Mas também com o seu lado menos apetecível, o da poluição, da
confusão do trânsito e das gentes que correm quase sempre em círculo como em
quase todas as cidades grandes.
Soube-me bem adentrar-me no campo, meter-me pela cordilheira
central andina e chegar a este lugar chamado Salento.
Antes de chegar já me deliciava com a paisagem que se
edifica de ambos os lados da estrada serpenteante. Numa corrida contra o tempo,
o pequeno autocarro torcia-se por entre as curvas e pelas primeiras horas da
manhã, Salento recebe-me depois de uma noite inteira de viagem.
Aninho-me no hostel e deixo que o sono me invada. Afinal
quase não dormi.
Planeio o próximo dia. Decido que vou ao Valle de Cocora
depois de apanhar o jipe das 7h30 que me leva até à entrada do parque nacional.
Soube de antemão que o trilho é relativamente fácil de
seguir e cruzo o portão com confiança e cheia de vontade de fazer esta
caminhada que me tomará cerca de 5 horas. O principal atrativo é o vale onde se
elevam as palmeiras de cera, árvore símbolo da Colômbia, e anseio por me sentir
pequenina ao lado delas.
Começo a caminhar. O caminho cruza algumas quintas que se
desenham pelas encostas onde as vacas param de pastar para me olhar, num gesto
rotineiro e quase desinteressado. O trilho é tosco, tem muitas pedras e vários
rasgos cavados pela água que ali corre durante as fortes chuvadas.
Sinto-me parte da terra, do verde e da natureza. Sorrio,
porque estas caminhadas são de facto algo que me enche o coração e onde me
conecto e reconcilio comigo, numa paz que quase sempre me foge.
Uns 20 minutos depois, a montanha posiciona-se à minha
frente, o trilho fecha-se e o mergulho no bosque é inevitável. Começo a subir e
a sentir-me rodeada de vegetação encantada. O verde é cada vez mais e maior e
assume tantos tons que não sei enumera-los todos.
Avanço, subo, conquisto. Deixo-me conquistar. Sorrio.
Atravesso pontes de madeira. Suspensas.
Desço, ao rio, em poucos passos. Sinto o frio da água
transparente a acariciar-me as mãos. Sinto-me uma alma antiga em comunhão com
todos os elementos. Inspiro e experimento o tempo que foi, o que é e o que será,
em uníssono, a preencher-me por dentro.
A subida acentua-se. Galgo os degraus sem nenhuma pressa e
mais de uma hora depois chego à primeira paragem. Ali está a casa de uma
associação que cuida do bosque e do trilho que tenho vindo a percorrer. Por
pouco mais de 1€ recebo um chocolate quente que me sabe deliciosamente. Tomo-o
aos poucos, em sorvos pequenos. Sento-me e observo a floresta, vejo os colibris
que chegam aos pares, volto a encher-me e vontade e prossigo o trilho.
Agora a subida é ainda mais acentuada. Canso-me. Estou quase
a atingir os 3000 metros de altitude e aqui o coração acelera mais facilmente.
Paro as vezes todas que o corpo me pede. Olho a montanha e penso no privilégio
que é ter este encontro a sós com ela. Só nós. Nós duas. Numa harmonia tão
grande que não me sinto em nenhum momento sozinha.
Atinjo o miradouro. Respiro. Inspiro. Relaxo.
A descida espera-me e sei que lá em baixo as palmeiras se
erguem numa elegância tão fluida como aquela brisa que me sabe a outono.
O trilho abre-se agora. Continua tosco. Dali a instantes
vejo o vale alongado num um horizonte que me transcende e é impressionante.
Desço, desço, desço… Chego. Piso o chão onde a relva cresce
espontaneamente. Sinto-o suave. Permeável às raízes que sustentam estas
palmeiras inacreditáveis. Cheguei ao Valle de Cocora! Wow!
Daqui até à saída do parque, o estradão é sempre plano,
volta a passar pelas quintas com vacas e cavalos e conduz-me até ao portão de
saída.
Deixo atrás de mim o vale, os vários tons de verde e as
palmeiras que conquistam o céu.
Venho feliz e sobretudo serena. Cada vez mais enamorada
deste país que me seduz a cada dia com a beleza dos seus lugares.
Regresso a Salento e faço planos para continuar a viagem.
Quero descobrir um pouco mais do Eje Cafetero e visitar até alguns dos seus
lugares menos turísticos.
Ainda estarei por cá uns dias, querida Colômbia! Terei
saudades tuas na despedida.
Informações e Links:
Hospedagem:
Hostel Tralala, em Salento
Quarto privado com casa de banho partilhada – 60.000 pesos
Transporte em jipe para a entrada do parque – 3.600 pesos,
cada viagem
Paragem na Associação ACAIME – 5.000 pesos, com direito a
uma bebida (café, chocolate ou água panela). O valor é investido na associação
e na manutenção das pontes do trilho.
NOTA: Todas as informações e valores dizem respeito a
setembro de 2016.
Continuação de boa viagem!
ResponderEliminarTudo de bom.
Obrigada Alberto! Sempre bom saber que continua a acompanhar-nos! :)
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