28 de setembro de 2016


Cheguei a Quíndio, a região da Colômbia onde a selva deu lugar às plantações de café.

Venho de Medellín e depois de Bogotá, das zonas urbanas. Bonitas, interessantes, perfumadas de uma cultura que vibra por entre a modernidade. Mas também com o seu lado menos apetecível, o da poluição, da confusão do trânsito e das gentes que correm quase sempre em círculo como em quase todas as cidades grandes.

Soube-me bem adentrar-me no campo, meter-me pela cordilheira central andina e chegar a este lugar chamado Salento.

Antes de chegar já me deliciava com a paisagem que se edifica de ambos os lados da estrada serpenteante. Numa corrida contra o tempo, o pequeno autocarro torcia-se por entre as curvas e pelas primeiras horas da manhã, Salento recebe-me depois de uma noite inteira de viagem.

Aninho-me no hostel e deixo que o sono me invada. Afinal quase não dormi.

Planeio o próximo dia. Decido que vou ao Valle de Cocora depois de apanhar o jipe das 7h30 que me leva até à entrada do parque nacional.


Soube de antemão que o trilho é relativamente fácil de seguir e cruzo o portão com confiança e cheia de vontade de fazer esta caminhada que me tomará cerca de 5 horas. O principal atrativo é o vale onde se elevam as palmeiras de cera, árvore símbolo da Colômbia, e anseio por me sentir pequenina ao lado delas.
Começo a caminhar. O caminho cruza algumas quintas que se desenham pelas encostas onde as vacas param de pastar para me olhar, num gesto rotineiro e quase desinteressado. O trilho é tosco, tem muitas pedras e vários rasgos cavados pela água que ali corre durante as fortes chuvadas.

Sinto-me parte da terra, do verde e da natureza. Sorrio, porque estas caminhadas são de facto algo que me enche o coração e onde me conecto e reconcilio comigo, numa paz que quase sempre me foge.




Uns 20 minutos depois, a montanha posiciona-se à minha frente, o trilho fecha-se e o mergulho no bosque é inevitável. Começo a subir e a sentir-me rodeada de vegetação encantada. O verde é cada vez mais e maior e assume tantos tons que não sei enumera-los todos.

Avanço, subo, conquisto. Deixo-me conquistar. Sorrio.

Atravesso pontes de madeira. Suspensas.

Desço, ao rio, em poucos passos. Sinto o frio da água transparente a acariciar-me as mãos. Sinto-me uma alma antiga em comunhão com todos os elementos. Inspiro e experimento o tempo que foi, o que é e o que será, em uníssono, a preencher-me por dentro.

A subida acentua-se. Galgo os degraus sem nenhuma pressa e mais de uma hora depois chego à primeira paragem. Ali está a casa de uma associação que cuida do bosque e do trilho que tenho vindo a percorrer. Por pouco mais de 1€ recebo um chocolate quente que me sabe deliciosamente. Tomo-o aos poucos, em sorvos pequenos. Sento-me e observo a floresta, vejo os colibris que chegam aos pares, volto a encher-me e vontade e prossigo o trilho.





Agora a subida é ainda mais acentuada. Canso-me. Estou quase a atingir os 3000 metros de altitude e aqui o coração acelera mais facilmente. Paro as vezes todas que o corpo me pede. Olho a montanha e penso no privilégio que é ter este encontro a sós com ela. Só nós. Nós duas. Numa harmonia tão grande que não me sinto em nenhum momento sozinha.

Atinjo o miradouro. Respiro. Inspiro. Relaxo.

A descida espera-me e sei que lá em baixo as palmeiras se erguem numa elegância tão fluida como aquela brisa que me sabe a outono.

O trilho abre-se agora. Continua tosco. Dali a instantes vejo o vale alongado num um horizonte que me transcende e é impressionante.


Desço, desço, desço… Chego. Piso o chão onde a relva cresce espontaneamente. Sinto-o suave. Permeável às raízes que sustentam estas palmeiras inacreditáveis. Cheguei ao Valle de Cocora! Wow! 

– Deslumbro-me.



Daqui até à saída do parque, o estradão é sempre plano, volta a passar pelas quintas com vacas e cavalos e conduz-me até ao portão de saída.

Deixo atrás de mim o vale, os vários tons de verde e as palmeiras que conquistam o céu.

Venho feliz e sobretudo serena. Cada vez mais enamorada deste país que me seduz a cada dia com a beleza dos seus lugares.

Regresso a Salento e faço planos para continuar a viagem. Quero descobrir um pouco mais do Eje Cafetero e visitar até alguns dos seus lugares menos turísticos.

Ainda estarei por cá uns dias, querida Colômbia! Terei saudades tuas na despedida.

Informações e Links:

Hospedagem:
Hostel Tralala, em Salento
Quarto privado com casa de banho partilhada – 60.000 pesos

Transporte em jipe para a entrada do parque – 3.600 pesos, cada viagem

Paragem na Associação ACAIME – 5.000 pesos, com direito a uma bebida (café, chocolate ou água panela). O valor é investido na associação e na manutenção das pontes do trilho.

NOTA: Todas as informações e valores dizem respeito a setembro de 2016.

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