26 de novembro de 2016



Descobri há uns anos que caminhar na natureza é uma das minhas atividades preferidas. E quando o cenário inclui montanhas e muito verde ainda me sinto mais energizada e envolvida pelo caminho.

Movida por esta expetativa e depois de receber a sugestão por parte de outros viajantes, entusiasmei-me para fazer o Quilotoa Loop (ou pelo menos, parte dele) enquanto estou no Equador.

O Quilotoa Loop é o caminho que se faz entre as seguintes povoações:
Latacunga > Zumbahua > Quilotoa > Chugchilán > Isinliví > Sigchos > Latacunga

Pode ser feito de transportes, pela estrada normal, ou ser percorrido a pé por trilhos que seguem pelo meio da montanha e que ligam algumas destas localidades.

Escolhi ir de autocarro desde Latacunga até Quilotoa e, a partir daí, fazer o trilho a pé até Isinliví, tendo depois regressado de autocarro a Latacunga, para completar o loop.

Fiz um total de 3 dias de caminhada mas há quem lhe dedique 4 ou 5 dias, acabando por conhecer mais lugares.

Abaixo deixo uma breve descrição do caminho e espero que quem ainda não fez este trekking possa algum dia desfrutar desta jornada pois vale muito a pena.




Dia 1 – Autocarro de Latacunga para Quilotoa e Caminhada pelo Trilho da Cratera

Em Latacunga fiquei no Hostal Tiana, bem popular entre mochileiros. É um lugar simpático, perto da estação de autocarros e onde se pode deixar a bagagem que não se vai utilizar no Quilotoa Loop pelo valor de $1 por dia.

Na manhã em que iniciei o percurso, fui a pé até ao terminal de transportes e de lá apanhei um autocarro para Quilotoa. A viagem demorou aproximadamente 2h. 

Assim que cheguei à povoação fui ao posto de turismo, que fica mesmo junto à cratera, e lá pedi informações sobre o caminho e as possibilidades de alojamento em Quilotoa, onde ia passar essa noite.

Hospedei-me num hotel muito bonito, novo e confortável, pertencente ao projeto de turismo comunitário da região, o Princesa Toa.

Deixei no quarto as coisas de que não precisava e preparei-me para fazer o trilho em redor da cratera. É importante referir que o trilho demora entre 4 a 5 horas para ser feito, por isso convém ter em conta que o sol se põe pelas 18h para não caminhar de noite.

O trilho é mais exigente do que eu pensava. Tem constantes subidas e descidas bem inclinadas, alguns pedaços com muita areia (que dão a algumas escorregadelas) e quase sempre é bastante estreito e ladeado por encostas inclinadas, quer do lado da montanha, quer do lado da cratera.




Na minha opinião é importante ter alguma resistência física para fazer o trilho e ser capaz de lidar de forma confortável com a questão das alturas. Confesso que em vários momentos me senti posta à prova e usei várias vezes as mãos para me apoiar, no chão ou nas laterais do caminho, e não me desequilibrar. 

O facto de a caminhada se fazer a, praticamente, 4000 metros de altitude também aumenta a sensação de cansaço. Sente-se o coração bater mais rápido e a respiração mais acelerada do que o normal. Para diminuir o esforço nestas situações, costumo levar umas folhas de coca e vou “mascando” nas subidas. Ajudam bastante.

Apesar da exigência do trilho, senti que esta é mesmo uma experiência a não perder no Equador. Mesmo que não se façam as outras partes do caminho, percorrer o trilho em redor da cratera é essencial!



Dia 2 – Trilho a pé desde Quilotoa até Chugchilán

Antes de iniciar a caminhada, acordei cedo e fui ver o nascer do sol junto à cratera.

Foi verdadeiramente um momento mágico que começou a acontecer pelas 5h50 e durou cerca de 30 minutos. Se me perguntarem se vale a pena acordar cedo para ver este fenómeno, eu vou responder numa fração de segundo: - Claro que sim!

O cenário da lagoa é lindíssimo de qualquer forma mas poder contemplar ali o nascer do sol é algo maravilhoso!





Depois deste amanhecer abençoado e com a barriga cheia com um bom pequeno-almoço, fiz-me ao caminho. A primeira hora de caminhada coincide com o trilho em redor da cratera. Depois, quando se chega a um miradouro sobre o lago, toma-se a rota que segue pelo lado esquerdo e começa-se a descer em direção a Chugchilán.

Já nessa descida, encontrei-me com uns alemães que tinha conhecido no dia anterior e acabei por fazer a restante caminhada com eles.


Até chegarmos ao canyon do rio Toachi, o caminho foi relativamente fácil e estava bem sinalizado. No entanto, quando se começa a descer para o rio, o trilho estreita-se, a inclinação aumenta bastante e a sinalização deixa de existir… Tivemos ali um momento de confusão e acabámos por não perceber bem por onde seguia o caminho.


Eu, para além de necessitar de lidar com essa dificuldade, ainda precisei de por à prova a minha determinação perante as vertigens que estava a sentir. O caminho muito inclinado, estreito e com fortes inclinações nas laterais, provocou-me bastante ansiedade. No entanto, avançando bem devagarinho e usando as mãos e os pés para ir descendo fui percorrendo o caminho beneficiando da paciência do Joachim e do Jannik que iam esperando por mim no final dos pedaços mais difíceis e se ofereciam sempre para me ajudar.

Enquanto andámos perdidos aproveitámos para ir seguindo o rio que ia na direção que queríamos e de vez em quando escalávamos a encosta para ver se vislumbrávamos a continuação do trilho no topo do canyon.

Acabámos por ficar a conhecer alguns lugares bem bonitos e depois de 2 horas conseguimos retomar a rota sinalizada.


Chegámos a Chugchilán bem cansados mas com uma sensação de realização e superação muito boa! Ficámos no Hostel Cloud Forest e lá juntámo-nos a outros mochileiros que estavam a fazer o caminho na direção oposta. Trocámos algumas dicas para o dia seguinte e jantámos juntos antes de cada um de nós cair pró lado e dormir como uma pedra.


Dia 3 – Trilho a pé desde Chugchilán até Isínlivi

Com o acumular do cansaço dos dias anteriores, acabámos por preguiçar bastante e sair de Chugchilán já por volta da 9h da manhã.

O caminho antevia-se mais fácil e fomos parando várias vezes para desfrutar da paisagem, pôr os pés descalços no rio ou simplesmente comer qualquer coisa.



Só a última parte é que puxou mais por nós por causa do aumento da inclinação e nos fez reduzir a velocidade na derradeira subida para Isínlivi.

Já na povoação instalámo-nos no hostel Llullu Lama e desfrutámos do ambiente tranquilo e boa energia do lugar.

Desfrutei dos últimos momentos com os meus companheiros de caminhada e despedi-me deles relativamente cedo porque no dia seguinte iria madrugar para regressar a Latacunga.


Dia 4 – Autocarro de Isínlivi para Latacunga

Acordei bem cedo porque neste dia queria chegar a Alausi, que ainda fica a umas 4 horas de Latacunga. Apanhei o autocarro que sai de Insílivi às 5h da manhã e cheguei a Latacunga pelas 7h30.

Fui até ao hostel onde tinha deixado a minha mala e aproveitei para tomar um café antes de prosseguir viagem.

Sentia ainda o desgaste da caminhada, o corpo bem dorido e as costas a pedir para não carregar mais a mochila. Mas estava feliz por me ter desafiado a ter esta experiência!

Durante a caminhada pensei que foi bom não ter lido muito sobre o grau de dificuldade do Quilotoa Loop pois, talvez se soubesse como era, não o teria feito. Ao fazê-lo senti a cada dia que me superava e voltei a experimentar aquela sensação de realização que aparecia quando fazíamos uma grande subida durante a viagem de bicicleta ou tínhamos um dia mais duro.

E pensar nisso fez-me sorrir de satisfação!



Informações:

Hostel Tiana (Latacunga) - $16 em quarto privado com casa de banho partilhada

Viagem Autocarro Latacunga – Quilotoa - $2

Entrada na Área da Lagoa de Quilotoa - $2

Hotel Pricesa Toa (Quilotoa) - $35 em quarto privado com casa de banho (inclui jantar e pequeno almoço)

Hostel Cloud Forest (Chucchilán) - $15 em dormitório com casa de banho (inclui jantar e pequeno almoço)

Hostel Llullu Lama (Insílivi) - $20 em quarto duplo com casa de banho partilhada (inclui jantar e pequeno almoço)

Viagem Autocarro Insílivi – Latacunga: $3

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