Foi em San Lucas que pela
primeira vez vimos aquele que dizem ser o lago mais bonito do mundo.
Atrás de nós, ficou a estrada
da costa do Pacífico pela qual pedalámos desde que saímos do México e cruzámos
a fronteira. Gostámos deste caminho quase plano e que sabiamente esconde as
grandes e famosas montanhas da Guatemala, conhecida como o país dos 33 vulcões.
Trinta e três!
Aqui, neste primeiro país da América Central, somos convidados
a entrar no anel de fogo do Pacífico e sabemos que a mãe-terra pode tremer a qualquer momento.
Debaixo deste chão, as entranhas do planeta revolvem-se e acomodam-se, a temperatura sobe e, se tivermos sorte, podemos ainda ver os cumes fumegantes ou até salpicos de lava incandescente a aterrar nas encostas dos vulcões ainda ativos.
Debaixo deste chão, as entranhas do planeta revolvem-se e acomodam-se, a temperatura sobe e, se tivermos sorte, podemos ainda ver os cumes fumegantes ou até salpicos de lava incandescente a aterrar nas encostas dos vulcões ainda ativos.
Queríamos descobrir este lado, o dos vulcões, das montanhas, das estradas inclinadas e das paisagens cheias da beleza que se
expressa em diferentes tons de verde. Mas para isso, teríamos de subimos ao lago!
Fizemos o início do caminho nas
bicicletas. Mas, à medida que avançávamos, a encosta inclinava-se mais e mais
debaixo das duas rodas e as nossas pernas queixavam-se enquanto pisavam os pedais.
Sentimos vontade de amaldiçoar cada quilo de bagagem e praguejámos contra o intenso
calor húmido que insistia em acompanhar-nos tornando o caminho (ainda) mais
difícil.
A dado momento, dissemos que
talvez não precisámos de defender o purismo da bicicleta (especificamente!)
naquela encosta e decidimos aliviar o custo da subida esticando o braço na
estrada, levantando o polegar e fazendo o sinal universal de pedido de boleia.
Esperámos um pouco e algum tempo
depois, parou junto a nós a pick up que o Mardi conduzia. Gentilmente, ele aceitou
levar-nos e nós sorrimos de alegria, enquanto desfrutávamos da leveza da conversa
que fluía por entre as curvas que subiam acentuadas. Quando passámos perto de San Lucas, o Mardi parou para nos
deixar. Despedimo-nos e pedalámos os poucos quilómetros que nos separavam da
pequena cidade aninhada aos pés dos vulcões Atitlán e Tolimán.
Parámos por ali, passeámos na praça central, fomos ao
mercado e aproveitámos a calma desta povoação pouco turística para contemplar a
presença ainda forte das tradições indígenas.
Deixámo-nos ficar durante um dia
e na manhã seguinte rolámos até Santiago.
No sobe e desce da estrada que rodeia o lago fomos
encontrando vistas lindíssimas e fizemos muitas paragens para tirar fotografias.
A distância era curta e rapidamente nos aproximámos da cidade.
Na chegada, a paz que tínhamos encontrado em San Lucas e pelo caminho, desvaneceu-se.
Ali, assim que Santiago nos recebeu, fomos “assediados” por pessoas que insistiam em oferecer-nos viagens de barco ou um hotel para nos hospedarmos, querendo que fossemos com eles ver os lugares. Não gostámos desta insistência e negámos as ofertas da forma mais cordial que conseguimos. Sentámo-nos na praça principal, enquanto pensávamos se ficávamos ou não por na cidade.
Não nos deu vontade de ficar…
Decidimos continuar e apanhámos uma lancha para San Pedro la Laguna.
Lá, ficámos felizes por ninguém nos abordar enquanto saíamos
do embarcadoiro e tomávamos tranquilamente o nosso tempo para pedir informações
e procurar hospedagem.
San Pedro tinha uma energia diferente. Agradável. Misturava harmoniosamente os turistas com as pessoas naturais daquele lugar, povos descendentes da civilização maia. Por todos os lugares ouvíamos falar em Tz’utujil (dialeto maia) e deliciavam-nos com os trajes coloridos e tradicionais dos habitantes.
Ficámos vários dias.
Subimos ao vulcão San Pedro numa caminhada de 3 horas, por um trilho bem inclinado. Lá de cima vimos o lago em imponente em beleza. Um regalo para a alma. Numa só paisagem, ali estavam reunidos (quase) todos os deuses maias presentes nos elementos da Natureza. O deus da Terra, do Vulcão, do Lago, do Céu e certamente muitos outros que desconhecemos e que enaltecem o esplendor divino daquele lugar onde podemos tocar as nuvens!
A subida ao vulcão e respetiva descida são bem exigentes
pelo que se recomenda um bom dia de descanso a seguir.
Também desde San Pedro, apanhámos uma lancha para visitar San Marcos la Laguna.
Esta povoação é pequenina e transformou-se num lugar de
retiro, excelente para quem procura experiências mais espirituais, quer fazer
meditação ou desfrutar de aulas de yoga.
É um lugar bastante calmo, ótimo para as vidas agitadas que
pedem uma pausa...
Ainda assim, apesar do ambiente acolhedor, senti que a pequena povoação estava bastante descaracterizada e
demasiado adaptada ao turista estrangeiro. Os menus dos cafés estão em inglês,
quase todos os locais que oferecem serviços são de pessoas estrangeiras e, na
minha opinião, isso faz com que sintamos que San Marcos tenha perdido alguma da
sua essência indígena e guatemalteca. Por essa razão gostámos mais de visitar San
Pedro ou até de Panajachel.
Foi lá, em Panajachel
que terminámos a volta ao lago Atitlán.
Tinha lido em vários blogues, de outros viajantes, que esta
cidade lhes tinha parecido demasiado turística e que, poucas horas depois de
terem chegado, já estavam a encaminhar-se para outros lugares, fugindo dali.
Sem negar que, de facto, é uma cidade turística não fiquei
com a mesma opinião. Senti que quando saímos da rua onde estão quase todos os
hotéis e mercados para acolher os estrangeiros, voltamos a entrar numa cidade
inteiramente guatemalteca, com o seu mercado municipal, a praça com a igreja ou
as ruas de trânsito confuso e desalinhado. Tivemos ainda oportunidade de estar
lá num dos dias em que se realiza o mercado do traje, em frente ao posto dos
bombeiros. É um mercado pequeno mas cheio de boas oportunidades para quem quer
comprar tecidos locais ou peças de roupa tradicionais.
Por outro lado, é também em Panjachel que está a Reserva
Natural do Lago Atitlán. Este é um lugar pelo qual vale a pena fazer um passeio
pois, para além de nos convidar a caminhar pelos trilhos recortados por entre o
bosque, ainda inclui um borboletário onde se podem contemplar centenas de
borboletas que esvoaçam graciosas e se pousam nas flores das inúmeras plantas.
Nesta reserva também podemos aprender muito sobre o ecossistema do lago, a
forma como tem servido as comunidades, as ameaças que o estão a deixar em
perigo e as ações de proteção ambiental que procuraram minimizar os danos já
causados a este bonito lugar.
De Panajachel podem ainda apanhar-se com facilidade os
transportes públicos para Sololá e Chichicastenago, localidades conhecidas
pelos seus mercados. Recomendo sobretudo a visita ao mercado de Chichicastenago
que é enorme, bonito e cheio de animação. Tem lugar às quintas e aos domingos e
para além de nos perdermos por entre os muitos postos de venda (de tudo e mais
alguma coisa) ainda podemos apreciar as práticas religiosas e de cura que os
povos indígenas continuam a praticar nas duas igrejas localizadas no recinto do
mercado.
Ainda que muitos turistas vão ao mercado em passeios
organizados pelas agências de viagem, sinto que ir de transportes públicos é um
complemento muito rico à experiência. Apanhar um transporte na Guatemala
permite-nos viver intensamente a loucura da condução que se pratica por lá e
ter uma noção real de como se movimentam as comunidades locais. Do ponto de
vista da condução diria não é uma experiência segura. Temos de confiar que vai
correr tudo bem porque aplica-se, literalmente, a expressão “Fé me Deus e pé na
tábua!”, independentemente das condições da estrada. No entanto, no que diz
respeito a outros aspetos é uma viagem perfeitamente segura para um estrangeiro.
Ainda que nos sintamos como sardinhas em lata quando os autocarros enchem de
uma forma que desconhecia ser possível, a viagem faz-se de forma fluída e
divertida.
Por todas estas razões (e com certeza muitas outras) estou certa de que quem decida visitar o lago Atitlán ficará deliciado com o passeio e com todas as oportunidades que ele oferece para se desfrutar da imensa riqueza natural e dos vários elementos da cultura dos povos Tz’utujiles, K’iche’s e Kaqchikeles. Vale a pena passar por aqui pelo menos uma vez.
Desejo-vos uma excelente viagem!
Hospedagem:
San Lucas Tolimán – Hotel Emanuel; 140 Quetzal por noite
San Pedro – Villa Sol; 100 Quetzal por noite
Panajachel – El Viajero; 125 Quetzal por noite
Nota: Todos os valores que pagámos nos hotéis foram
regateados. O regateio é prática comum, não só nos hotéis, como nos mercados ou
com outros vendedores.
Transportes Públicos:
Lanchas que ligam as várias povoações do lago:
Viagem de Santiago – San Pedro la Laguna; 25 Quetzal por
pessoa (35 Quetzal com a bicicleta)
San Pedro la Laguna – San Marcos; 10 Quetzal por pessoa
(Para São Marcos não levámos as bicicletas)
San Pedro la Laguna – Panajachel; 25 Quetzal por pessoa (35
Quetzal com a bicicleta)
Moto táxi de Panajachel para a Reserva Natural do Lago
Atitlán; 10 Quetzal por pessoa
Autocarros de Panajachel para Chichicastenango:
Pana – Solola; 3 Quetzal por pessoa
Solola – Los Encuentros; 2,5 Quetzal por pessoa
Los Encuentros – Chichicastenango; 5 Quetzal por pessoa
Subida ao Vulcão San
Pedro:
Custo do Guia; 150 Quetzal por pessoa (inclui transporte em
moto táxi até ao início do trilho e também de regresso até à cidade). O passeio
inicia às 6h da manhã.
Nota: Todos os
valores dizem respeito a maio de 2016.
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