29 de janeiro de 2016

Este pedaço de viagem principiou em Linares, prosseguiu em subida até Iturbide e subiu um pouco mais até meio-caminho para Galeana. Durante o percurso, tivemos muitas manhãs preguiçosas, dias quentes e outros bastante frios, fizemos campismo pelo campo e detivemo-nos em encontros rápidos com pessoas de sorriso franco e genuinidade serrana.





Voltámos a sentir o bater do coração da serra, numa cadência simples e rural.

Através dos montes, descobrimos as vidas que ali se constroem. Pareceram-nos vidas de verdade e de dureza. Havia quem trabalhasse nos campos, nem sempre fecundos. Havia pastores com rebanhos de cabras equilibrados delicadamente nas encostas inclinadas. Havia quem levasse as vacas para pastar ou as juntasse em parelhas para arar o terreno. Havia burros que carregavam lenha e senhores de idade avançada que com eles caminhavam a passo lento.




Lembrámo-nos da ruralidade de Portugal…

Quando chegámos a Iturbide conhecemos a D. Elba que gere a Posada del Carmen, onde nos hospedámos. Nos dias que lá passámos, éramos os únicos hóspedes.

- No Inverno não há trabalho. – Disse-nos ela.

Recebeu-nos num doce clima familiar e esteve sempre preocupada com o nosso bem-estar. Surpreendeu-nos, em vésperas de partirmos, com duas taças de arroz doce ainda quente, acabadinho de fazer.



Iturbide é um daqueles lugares onde apetece ficar. A pequena cidade recebeu-nos bem e misturou-nos com suavidade no vaivém sossegado dos seus habitantes e na simplicidade das suas gentes que se provavelmente se conhecem por inteiro.



Fizemos uma grande caminhada por um caminho de terra e chegámos a um lugar onde permanecemos só nós, na companhia dos montes e do silêncio. Em silêncio. Em ligação com a terra e a desfrutar desta sensação mágica de proteção que nos invade quando a serra nos abraça.





Cansámos o corpo de tanto caminhar. Tomámos tempo para descansar e, um dia depois, despedimo-nos pedalando sem pressa pelos próximos quilómetros inclinados.

Parámos em Galeana. Decorriam as festas em honra do apóstolo São Paulo. Havia feira na praça principal. Perdemo-nos nas barraquinhas e não fomos relutantes quando as bancas de doces chamaram por nós. Abastecemo-nos com uns rolos de doce de goiaba, um copo de cajeta (doce de leite) e alfajores de côco. Tudo para consumir com a devida moderação!

Ou talvez não…

Fomos de bicicleta conhecer as atrações naturais em redor de Galeana. Passámos pela Laguna de Labradores, demorámos para encontrar o escondido Pozo de Galiván e vimos de perto o impressionante Cerro Potosi com 3700 metros de altitude.






Em seguida, continuámos. Chegámos a La Ascención que todos conhecem por La Chona. É famoso o Mezcal que lá se destila. E, ainda que não faça parte da lista das regiões “oficiais” de produção da bebida, La Chona orgulha-se do seu ex-líbris. Fomos fazer a prova na casa da D. Antónia e testámos a nossa resistência ao néctar de 42°. Sobrevivemos!

Nesta pequena aldeia, pernoitámos no hotel Yire onde nos recebeu o Don Lito. Com toda a confiança, deixou connosco a chave do hotel e voltou a sair para tratar da vida. No dia seguinte conversámos com mais tempo.Voltaríamos a encontra-lo na estrada, dias depois, quando passou por nós de carro, com o filho. Parou para nos cumprimentar e quis que o filho lhe tirasse uma foto connosco.



Disse: - Vou imprimi-la para pôr no restaurante do hotel, com uma nota dizendo que estes dois portugueses passaram por lá na sua viagem de bicicleta pela América!

Sentimo-nos honrados e com um sorriso continuámos a subir o bom pedaço de estrada em obras até à descida para Doctor Arroyo. Nesse momento deixámos a Sierra Madre para trás.



Olhámos e podíamos vê-la desenhada no horizonte. Despedimo-nos.

Até um dia Sierra Madre, Serra Mãe… Gostámos dos pequenos lugares por onde passámos, apreciámos o ritmo pausado da tua gente e das tuas aldeias, estimámos a rusticidade dos teus campos, deleitámo-nos com as vacas e as galinhas que livremente se passeavam pela estrada, prezámos o verde, o vento, o céu, o sol e… o teu abraço. Até sempre!


 

4 comentários:

  1. Ao ler este post, eu senti todas as emoções vividas e descritas por vocês. Grato pela partilha.
    Também eu estou a viajar convosco "à boleia" nesta vossa fantástica aventura. Espero não "pesar" muito nas vossas pedaladas.
    Grande abraço!
    Tudo de bom.

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    1. E nós ficamos gratos pelo comentário e pela boa companhia na viagem! Boleia sempre ao dispor :)
      Abraço!!

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  2. Fantástico Amigos. Vocês com as vossas descrições dos sítios e lugares fazem-nos sentir fisicamente aí convosco. Emocionante. Um grande e especial abraço ao Tiago e à Dani um beijo de amizade e carinho. Mais uma vez muito obrigado

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    1. Que bom receber esse feedback. :) Nós é que agradecemos!! Forte abraço!

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